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Sobre Titan, sonhos e os limites do turismo

Na semana passada, o mundo se comoveu com a notícia do veículo submersível Titan, que sofreu um acidente fatal mergulhando a mais de 3000 m de profundidade nas águas do Atlântico Norte, matando a todos os (ricos) ocupantes que buscavam conhecer os destroços do mítico navio Titanic, naufragado em 1912 no mesmo lugar.

Inauguramos a era do turismo de experiência mortal, a ponto de fazer com que os turistas morram quase da mesma forma que os viajantes do objeto de interesse, no caso o Titanic. Se não em um transatlântico luxuoso em sua viagem inaugural, que seja pelo menos no mesmo local e com a mesma dose de imprudência. O perigo e o risco fizeram parte desse pacote de viagem. Agora, Titanic e Titan estarão ligados eternamente, no fundo do mar e na história, revelando talvez o próprio desejo insconsciente dos tripulantes desse último para que fosse assim.

Foto: REUTERS/OceanGate

Ignorando-se o fato de que poucas pessoas poderiam pagar USD 250 mil pela aventura, o certo é que esse acontecimento reforça o poder de uma boa história, no caso quase tão mitológica quanto a dos Titãs da Grécia Antiga (ou da banda de rock paulistana). Tão boa que levou muita gente a se aventurar para encontrar os destroços do navio (e até fazê-los submergir) durante muito tempo. Tão boa que levou milhões ao cinema e que ainda faz muita gente chorar. Tão boa que levou 5 bilionários a morrerem por ela.

Onde está o turismo aí, esse termo que logo associamos a praias, guarda-sóis e descanso? Bem, fala-se que o turismo é feito de sonhos e isso de fato é verdadeiro. Mas o que são sonhos? Quando adormecemos, somos transportados para outro lugar, interagimos com outras pessoas. Isso por si só já é uma viagem, assim como as causadas pelos efeitos de certas substâncias. Não à toa se diz que uma pessoa está “viajando” quando foge de um assunto. Viagens são o desejo, concretizado ou não, de fugir da realidade que nos cerca. Claro que, para muitos, viagens são compulsórias e pouco têm de glamour. Pense nos imigrantes, refugiados e retirantes, por exemplo. Mas, mesmo nesses casos, continuam sendo sonhos, já que eles poderiam permanecer no lugar em que estavam. Sonhos de uma vida melhor, menos árdua, menos sofrida. Ou apenas sonhos de sobrevivência. E isso vem sendo assim desde que o ser humano desceu das árvores para se aventurar pelo mundo, buscando o horizonte que nunca chegava. Viajar é algo muito, muito humano.

Para os muito ricos (que também são humanos!), não se pode mais falar em destinos, mas sim em fronteiras. Quais serão as próximas fronteiras para turistas endinheirados? O turismo espacial já teve seu pontapé inicial (sem acidentes por enquanto). Lua? Marte? Exoplanetas com vida inteligente? Para onde quer que seja, lá estará o ser humano e seus sonhos. Mesmo que tenha de se morrer por eles.

 

 

 

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