O turismo tradicional até 2020 aparecia como mais um produto de ordem capitalista. Hordas de turistas invadiam praias, campos e cidades, gerando na teoria o desenvolvimento econômico destes destinos, em conjunto com uma série de “efeitos colaterais” já bastante discutidos: degradação do meio ambiente e do patrimônio sócio cultural, transtornos aos moradores, inflação de preços, especulação imobiliária acarretando no desaparecimento ou marginalização de comunidades inteiras (a chamada gentrificação), etc. Era o overtourism (ou excesso de turismo) como consequência do turismo predatório.
Na contramão dessa lógica, um número cada vez maior de pessoas busca reduzir os hábitos de consumo, compartilhar recursos e obter um meio de vida mais sustentável. Talvez, mais conscientes dos dilemas da sociedade moderna ou simplesmente cansados do mundo atual tal qual ele se apresenta. São pessoas que buscam a simplicidade, a preservação da natureza e a autenticidade das coisas que as rodeiam, em seus locais de residência, trabalho e também em suas viagens. Essas percepções e mudanças de atitude são adotadas também por muitas empresas, desde pequenos negócios à grandes corporações.
Turismo sustentável vem com força
Podemos dizer que essas ideias, que os gregos antigos já defendiam, chegaram aos tempos modernos nos anos 1950, a partir de algumas poucas críticas ao consumismo e exploração de recursos naturais, principalmente nos Estados Unidos. Nas décadas seguintes, o debate se intensificou, principalmente através das grandes conferências da ONU sobre o Meio Ambiente. O tema da sustentabilidade apareceu no final da década de 1980 até que em 2015 foram lançados os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com o turismo ocupando papel de destaque como vetor de desenvolvimento.
Durante todo esse tempo, é obvio que houve avanços, mas o tema da sustentabilidade nunca foi realmente central no desenvolvimento do ser humano, seja na sociedade, economia ou no meio ambiente, que formam o chamado “tripé sustentável”. No turismo, isso não foi diferente, sendo que turismo sustentável é tratado ainda hoje praticamente como um nicho de mercado, ou algo difícil e custoso de se implantar. No Brasil, a visibilidade é ainda menor, a despeito do fato de sermos o segundo país com maior potencial turístico de natureza do mundo, segundo o ranking do Fórum Econômico Mundial de 2019.
Covid-19
Até que chegamos em 2020 e uma nova classe de corona vírus chamada de Covid-19 surge, se dissemina em uma velocidade assombrosa através do próprio turismo massificado e globalizado e paralisa o mundo em apenas alguns dias, com consequências que devem se arrastar por muitos anos. Nenhuma crise recente chegou perto de fazer tal estrago, a ponto de se criar o termo “Novo Normal” para descrever o que virá a seguir. Mesmo não se sabendo exatamente o que significa.
Consequentemente, chegamos a muitas questões: é possível recomeçar do zero sendo sustentável ou a sustentabilidade é lembrada apenas em momentos de saturação, como forma de suavizar alguma “culpa”? Pode o turismo ser um dos vetores de transformação do capitalismo em algo mais humano e respeitoso ao meio-ambiente? O turismo sustentável é elemento chave nesse desejo de mudança? São perguntas bastante pertinentes ao momento único que se apresenta, pois o turismo como um todo, adotando a sustentabilidade como regra, pode liderar um movimento global rumo a mudanças profundas e necessárias.
No Brasil, existe um grande potencial do turismo de lazer doméstico, a partir das dificuldades que existirão em se viajar para o exterior. É uma grande oportunidade de se popularizar a sustentabilidade e trazê-la ao alcance de todos.
As atitudes individuais têm fundamental importância no processo de preservação ambiental. Por isso, a conscientização para sempre pensarmos no turismo sustentável a partir de agora vai fazer ainda mais diferença nos impactos na natureza.
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